terça-feira, 3 de novembro de 2015

• NOTÍCIA • Afinal, o que é a fosfoetanolamina? Será que já temos a cura do câncer e não sabemos?


Nos últimos dias temos assistido a muitas discussões sobre o uso de uma substância química, a fosfoetanolamina, anunciada como cura para diversos tipos de cânceres. Trata-se de uma substância que passou a ser produzida em laboratório por um pesquisador Gilberto Orivaldo Chierice da USP, hoje aposentado, que acredita que ela seja capaz de tratar câncer.

Diante deste fato, muitos pacientes têm recorrido à justiça e, quando têm seu pedido atendido, recebem as cápsulas sem qualquer indicação de uso. Isto é, não se sabe como tomar a substância, o quanto tomar, se interage com outros medicamentos, quais são os efeitos esperados, se há efeitos adversos, enfim, não há indicações de uso simplesmente porque este produto ainda não é um medicamento.

A fosfoetanolamina uma molécula muito simples e está presente nas membranas das nossas células. Ela é conhecida dos cientistas desde 1936, e por ter sido descoberta em tumores de bois, foi estudada de várias maneiras em laboratório para saber o que ela tinha à ver com o câncer. É verdade que em vários estudos, sempre em células isoladas de câncer ou em animais de laboratório, a substância funcionava como um inibidor do crescimento de tumores. Mais recentemente, químicos da Universidade de São Paulo, em São Carlos, aprenderam a sintetizar a fosfoetanolamina e fizeram vários estudos com ela em parceria com outros pesquisadores na área do câncer. O efeito anticâncer dessa substância foi confirmado em modelos vários tipos de câncer, mas sempre em laboratório, nunca em humanos.

O pesquisador que desenvolveu a pesquisa alega que pediu ajuda à Anvisa para desenvolver os testes necessários, mas houve "má vontade" da agência. A entidade, por sua vez, afirma que nunca houve um pedido de autorização para pesquisa clínica. Houve ainda um contato com a Fiocruz, porém o pesquisador diz que a instituição exigia que a patente do método de síntese da substância fosse passada para a fundação, o que não teria sido aceito por ele. Já a Fiocruz afirma que não realizou o pedido da patente.

Diante de tantas informações desencontradas, é compreensível a angústia de pacientes e familiares que convivem com uma doença grave como o câncer, mas, neste momento, não há evidências científicas de que essa substância seja capaz de ajudar no tratamento contra a doença, muito menos que seja segura. Isso porque a fosfoetanolamina só foi estudada em laboratório. Nunca houve estudos em pacientes com câncer.

Por não ser considerada tóxica, a fosfoetanolamina (ou fosfamina) foi entregue gratuitamente por anos. Inclusive havia parceria com um hospital na cidade de Jaú/SP. Porém, em 2014, a USP de São Carlos determinou que as substâncias experimentais deveriam ter todos os registros necessários antes que fossem disponibilizadas à população. Com isso, as cápsulas, que não têm a licença da Anvisa, passaram a ser distribuídas somente mediante decisão judicial. Em 28 de setembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo havia revogado todas estas liminares, cerca de 800. No entanto, no último dia 9 de outubro, o TJ-SP voltou atrás, de forma que todos agora podem obter a substância na Universidade. Com a nova decisão, prevê-se uma corrida judicial de novos pedidos para obter a fosfoetanolamina, o que causará problemas para a Universidade de São Paulo, em São Carlos, que não dispõe de estrutura para a produção em massa.

Fonte: Proteste.org.br, HoraDeSantaCatarina.clicrbs.com.br

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